Hermes Trismegisto é o nome a quem foi atribuída a autoria dos tratados que compõem a obra denominada de Corpus Hermeticum.
Hermes Trimegisto é a sobreposição do deus egípcio Thot ao seu correspondente grego, o deus Hermes, de modo que as funções principais deste último como mensageiro e intérprete dos deuses são englobadas pelas funções mais amplas de Thot: considerado o deus da sabedoria, deus articulador da Palavra Divina, primeiro-ministro do Deus Supremo, escriba do Deus Supremo, seu mensageiro e executor da justiça divina.
Desde o século III a. C., o nome de Hermes aparece no Egito seguido do título de “grande deus, muito grande e muito grande”, proveniente de designações egípcias de Thot.
Esse segundo nome é qualificativo, designação honorifica pois “Trismegisto” significa “três vezes muito grande”: proveniente do grego tris (de três vezes) e megisto (de grandíssimo ou muito grande), sendo considerado o arquétipo ou modelo perfeito do maior dos reis, do maior dos sacerdotes e do maior dos sábios, e também como o possuidor do conhecimento pleno das três partes da sabedoria: dos fundamentos cosmogônicos e da aplicação da alquimia, da astrologia e da teurgia – o que lhe dava o domínio dos três mundos que são correspondentes a essas três ciências sagradas: o mundo físico, o mundo astral e o mundo espiritual.
Ele personificava a transmissão da sabedoria divina através dos tempos não somente aos homens, mas também aos próprios deuses, tendo sido ele que a transmitiu, por exemplo, a Osíris, a Hórus e a Ísis.
Num conjunto de papiros encontrados no período helênico, chamados de Papiros Mágicos Gregos, ele é descrito como o Criador do Céu e da Terra e o Onipotente Governador do Mundo.
Isto é totalmente coerente com o mito egípcio de Hermópolis (cidade de Hermes), que está na origem de todos os outros mitos egípcios (de Heliópolis, Menfis e Tebas), no qual Thot é aquele que nasce dos Oito Deuses Primordiais, chamados de Ogdóada Primordial; e, no mito hermopolitano, fundador de toda a mitologia egípcia, é a partir da Palavra de Thot que o mundo é criado (…).
É então Thot (em seu aspecto masculino, ou seja, enquanto Sabedoria Divina revelada) que traz para a existência o que o coração do Deus Supremo revelado, Rá, concebeu; é Thot, o Engendrado, “o Senhor das Emanações de Rê”, que articula como Palavra (e escreve) o Verbo de Rê ou Rá.
Na Tradição Hinduísta e Budista ele pode ser equivalente à função do Chakravatin (“Aquele que faz a Roda Cósmica Girar”), o Governante Universal ou Rei do Mundo, Aquele que governa ética e benevolentemente todo o mundo.
Na Tradição Judaica ele é equivalente à função do patriarca Enoque, pois não somente ele subiu ao céu e recuperou a integralidade da tradição primordial (origem da filosofia ou sabedoria perene), mas, além disso, quando morreu sem deixar o corpo tornou-se o Anjo da Face (Metatron), o mais elevado de todos os anjos, ao qual todos os mistérios divinos são revelados, o Grande Escriba de Deus e o anjo que comunica a Palavra divina, as mesmas funções de Thot na Tradição Egípcia.