Foi um poeta e trovador francês do final do século XII. Foi um dos primeiros autores de romances de cavalaria, sendo também considerado o primeiro grande novelista em língua francesa. Suas obras inspiraram a literatura em toda a Europa Ocidental durante a Idade Média.
Compôs cinco longos romances sendo eles: Erec e Enide (Erec et Enide), Cligès, Lancelot ou O Cavaleiro da Charrete (Lancelot, ou Le Chevalier à la Charrette), Yvain ou O Cavaleiro do Leão (Yvain, ou Le Chevalier au lion), e Perceval ou O Romance do Graal (Perceval, ou Le Conte du Graal).
Nasceu na cidade de Troyes (a 180km de Paris) e escreveu entre 1160 e 1185 na corte de Maria de Champagne, filha de Eleanor da Aquitânia e Louis VII, esposa do conde de Champagne e grande patrona das cartas. Depois, trabalhou na corte de Filipe de Flandres até o final de sua vida, inicialmente sendo patrocinado e protegido por Maria da França, condessa de Champagne e, posteriormente, pelo Rei Filipe de Flandres.
Perceval ou O Romance do Graal foi uma encomenda feita pelo Rei Filipe de Flandres (ou Filipe de Alsácia) e destinada ao jovem e futuro rei Filipe Augusto, seu afilhado e tutoreado.
Em toda biografia é comum fazer um recorte da história do autor biografado e tratar pouco do contexto religioso e espiritual que o formou intelectualmente e espiritualmente. Isto não é possível quando se tratarmos da biografia dos autores dos romances que se tornaram a base fundamental e mítica da Tradição da cavalaria.
É sabido que a região de Troyes foi um local onde existiram muitos cultos celtas, além de cultos ao Deus Mitra, e que posteriormente foram considerados cultos pagãos. Além disso, era um período onde o Ocidente passava por um grande processo de cristianização (época também do surgimento dos cavaleiros templários), mas ainda era possível ter acesso a conteúdos não apenas cristãos, mas também judaicos, islâmicos e celtas, mesmo com o avanço do domínio cultural da igreja e com a Inquisição. Foi um momento em que as obras e os tratados esotéricos passaram a ser transmitidas sob o véu do segredo.
Há uma grande probabilidade de Chrétien de Troyes ter sido um judeu convertido ao cristianismo. Nesse sentido, há a hipótese de que a escolha do seu nome, Chrétien de Troyes, cuja tradução seria o Cristão da cidade de Troyes, dando a impressão de ser até mesmo um pseudônimo.
Outro fator histórico importante: a cidade de Troyes tinha uma intensa cultura judaica tradicional imersa na Cabalá, cujo personagem mais conhecido foi Rachi de Troyes (Salomon ben Isaac, 1104 – 1105), uma das principais figuras rabínicas da Idade Média.
Partindo dessa hipótese, ele teria tido uma formação judaica inicial e depois, tendo passado por um processo de aculturação no contato constante com a igreja, Chrétien de Troyes teria tido a possibilidade de relacionar com e de integrar na tradição cristã os ensinamentos cabalísticos mais tradicionais e complexos, tentando estabelecer uma ligação simbólica e uma síntese entre o cristianismo e o judaísmo, e, provavelmente, mesmo com o celtismo, visto que Perceval ou O Romance do Graal é um texto com muitos símbolos cabalísticos e também celtas.
Além disso, estando a serviço de Maria da França, antes de servir o Conde de Flandres, isso só poderia ter ocorrido caso ele possuísse também uma formação clássica, com um conhecimento aprofundado do latim e do grego.
Da Idade Média até os dias de hoje só se fala do seu valor literário e romântico, pois poucos foram capazes de reconhecer e mensurar o alcance verdadeiramente esotérico e iniciático de suas obras.
Obras de tamanha envergadura e precisão esotérica como esta levam alguns estudiosos a cogitarem na existência de uma confraria cavaleiresca secreta que poderia ter sido a autora dessas obras, de maneira similar à das obras que foram escritas pelo movimento Rosa-Cruz do Círculo de Tübingen, na Alemanha do início do século XVII, quando os textos foram atribuídos a um só autor e, na verdade, eram o resultado de um trabalho coletivo.